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A injustiça de gênero e os desafios de uma transformação social

 
Por Bianca Daébs*
 
Gostaria de iniciar essa breve reflexão sobre injustiça de gênero e os desafios para uma transformação social, lembrando que na base do código moral que rege a sociedade a ocidental repousam valores patriarcais e androcêntrico que são fortemente pautados nos discursos religiosos sobre a inferioridade moral, física e intelectual das mulheres e, desse modo, servem de pressupostos para as homilias sobre a submissão feminina que reforçam as violências de gênero praticada contra mulheres e meninas em nossas comunidades de fé e na sociedade de modo mais amplo.
 
Destaco como teóloga feminista latino-americana que Igrejas e comunidades de fé têm se esforçado, ao longo de muitos dos séculos, para transformar a submissão feminina, que é um dado cultural, reforçado pelo sistema capitalista que sacraliza a exploração do ser humano e a expropriação da terra e do território em nome do lucro, em mandamento divino. Esse processo foi gradativamente normalizado e hoje muitas pessoas acreditam que é natural e legitimo que homens sejam superiores às mulheres.
 
Em muitas Igrejas os discursos que violentam as mulheres e meninas ganham o agravante de serem pronunciado em meio ao sagrado e à tradição familiar que joga nas costas da mulher toda a responsabilidade por fazer sua família feliz, estruturada, espiritualizada, manter a vida sexual ativa, o casamento blindado e a educação das crianças em ordem. 
 
Se quiser estudar e ou trabalhar fora precisa ter dom de equilibrista para equalizar tudo isso em sua única vida. Sempre que faço essa reflexão me lembro que Eva desejou sair do paraíso e encontrar a vida que havia para além dele. Isso nos diz sobre nos colocar no lugar das mulheres antes de emitir qualquer juízo de valor sobre seu comportamento.
 
Então, se enquanto Igreja, desejamos romper as práticas que alimentam a ideia de inferioridade, submissão e contribuem para as várias formas de violência cometida contra mulheres e meninas, precisamos nos arrependermos e darmos testemunho do nosso compromisso com o Evangelho de amor, perdão e graça; Precisamos Viver as marcas da nossa missão dando continuidade às ações que já iniciamos em muitos lugares. 
 
Não podemos retroceder em nome de uma crise econômica ou pandêmica pois, as mulheres são as primeiras a sofrerem as consequências de uma crise social. Cortar as verbas que sustentam as missões que buscam a equidade de gênero vai na contramão do testemunho de fé que precisamos dar ao mundo.
 
Ressalvo que comportamentos não são modificados do dia para noite, por isso, é preciso investir em educação para a equidade de gênero, educar em espaços formais e não formais, a tempo e fora de tempo. O tema da equidade de gênero está pautado na política de ações estratégicas de nossa comunhão, mas, precisamos nos unir para fazê-la chegar aos seminários, faculdades, aos púlpitos, às escolas bíblicas dominicais, aos nossos cultos de oração e no nosso ativismo contra o Estado Violador como ação profética que denuncia o pecado e anuncia com esperança um novo tempo. 
 
Como diz a poetiza brasileira Simei Monteiro,
 
Se caminhar é preciso, / caminharemos
unidas, / e nossos pés, nossos braços, /
sustentarão nossos passos. / Não mais seremos
a massa, / sem vez, sem voz, / sem história, / mas
uma Igreja que vai / em esperança solidária.
 
Se caminhar é preciso, / caminharemos
unidas / e nossa fé será tanta / que transporá as
montanhas. / Vamos abrindo fronteiras / onde só
havia barreiras, / pois somos povo que vai / em
esperança solidária. 
 
*Bianca Daébs é reverenda da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, atuando na Paróquia do Bom Pastor em Salvador-Bahia. Também integra o coletivo Mulher Políticas Pública e Sociedade (MUPPS) e é assessora para o diálogo ecumênico e inter-religioso da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).
 
Imagem: Pixabay

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