Por Sergio Riede*
Nos próximos três anos, cerca de 200 mil homens receberão o diagnóstico de câncer de próstata no Brasil. 45 mil devem morrer desta doença. É a segunda causa de morte do público masculino, atrás apenas das doenças cardiovasculares. O dado mais chocante é que grande parte dessas mortes poderia ser evitada.
Em pleno Século XXI, um dos motivos que afastam os homens dos urologistas é a possibilidade de ter que se submeter ao toque retal. A resistência de realizar um procedimento que dura apenas alguns segundos e que pode salvar a própria vida não tem qualquer explicação lógica.
No Brasil, as mulheres vivem em média 7,1 anos a mais do que os homens. Um dos motivos é que elas se cuidam mais. Costumam frequentar ginecologistas, por exemplo, desde a adolescência. Dados do Ministério da Saúde mostram que, de cada 10 homens, três nunca foram a um médico. E dos que vão aos consultórios, metade só o faz depois que descobre um problema sério. Para muitos, a demora pode ser fatal. Às vezes a doença já está em fase avançada e as possibilidades de cura ficam pequenas.
No caso do câncer de próstata, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais. Quando descoberto no início, o câncer prostático tem grades chances de cura. Eu sou um exemplo disso. Faço exames anuais desde os 50 de idade. No ano passado, aos 63, um exame de rotina detectou a elevação do meu PSA, um marcador do exame de sangue que aponta possíveis doenças na próstata. Eu não tinha nenhum sintoma. Mesmo assim, meu urologista pediu novos exames e detectamos um câncer em fase inicial. Mas tem um detalhe muito importante: ele estava localizado junto à parede da próstata e já estava começando a atingir o lado externo da parede. Se eu não fizesse exames anuais e esperasse ter sintomas para procurar um médico, em mais um ou dois anos provavelmente o meu câncer já teria invadido outros órgãos próximos à próstata.
Como descobri no início, a cirurgia para a retirada total da próstata (prostatectomia) resolveu o problema. Pelo diagnóstico ter sido precoce, não tive nenhuma sequela (as mais comuns são incontinência urinária ou impotência sexual). Sequer precisei fazer radioterapia, que é um tratamento adicional de muita importância e eficácia em certos casos.
Eu resolvi falar do meu caso desde o início. Publiquei notícias nas minhas redes sociais, contei para todos os familiares e amigos. É interessante que depois que saí contando do meu caso, descobri que vários amigos já tinham feito cirurgia de próstata. Mas nenhum deles havia divulgado isso.
Como entendi que minha experiência poderia ser útil para outros homens se cuidarem, resolvi escrever um livro com minha história. Creio que o alerta seja válido inclusive para mulheres que, por qualquer motivo, também não fazem exames regulares para detectar precocemente doenças como o câncer de mama, por exemplo.
Procurei encarar o meu processo com bom humor, com astral o mais alto possível e tirei das gavetas o sonho de publicar um livro. Durante o Novembro Azul de 2020, lancei o livro “Câncer, Eu? – Memórias alegres de um medo profundo”. O livro mistura crônicas que falam da minha vida em geral (família, trabalho, teatro, educação), passa por temas como terceirização da culpa, gestão da ignorância e autoengano, e trata com destaque toda a batalha que travei contra o câncer. Sempre com uma dose de bom humor. O texto não foge do tema da morte, mas celebra a vida.
Recebi há poucos dias, pelo Whatsapp, o depoimento de um amigo muito próximo que ficou internado 14 dias por conta da Covid-19. Ele dizia no vídeo que tem uma boa conta bancária, mais de um carro na garagem, alguns imóveis e uma vida financeira bastante equilibrada. Mas num dos dias que estava na UTI, já ligado no oxigênio, tentou puxar o ar para os pulmões e não conseguiu. Diz ele que percebeu naquele momento que tem coisas que não estão à venda. O ar é uma delas. Eu diria que afeto, amor, generosidade e compaixão são outras. Meu amigo então pediu a Deus mais um tempo de vida e prometeu que, saindo dali, faria tudo para ser uma pessoa melhor.
A pergunta final que deixo para todos nós é a seguinte: por que será que a gente precisa passar por situação extrema assim para entender que podemos ser, a cada dia, um ser humano melhor, mais compreensivo e mais generoso, inclusive conosco mesmos?
SERVIÇO
TODA A RENDA DO LIVRO SERÁ DESTINADA ao Núcleo Solidário Marcelinense, que auxilia pessoas com câncer e seus familiares. Caso tenha interesse em adquirir, basta depositar R$ 29,90 diretamente na conta do Núcleo e, depois, enviar o comprovante para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. , juntamente com seu endereço completo (para envio).
Núcleo Solidário Marcelinense
Banco Sicredi: 748
Agência: 0217
Conta Corrente: 17.083-6
CNPJ: 04.204.253/0001-38
“Câncer, Eu? – Memórias alegres de um medo profundo” também está à venda pela internet na Shoptime, Submarino, Amazon e Lojas Americanas.
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*Sergio Riede é jornalista, escritor e palestrante. Educador do Banco do Brasil por mais de 30 anos, foi professor de programas de pós-graduação na FGV e no Ibmec. Hoje mora em Brasília com a esposa Márcia, com quem divide experiências, saberes e muita cumplicidade.
Fotos: Acervo pessoal
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