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Entre os dias 19 e 23 de junho, a Paróquia da Santíssima Trindade da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) acolheu o 1° Congresso Igrejas e Comunidades LGBTI+. O evento foi promovido pela Paróquia e pela Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, contando com o apoio de Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/Junta Nacional de Educação Teológica (JUNET); Christian Aid Brasil; Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e AHF Brasil.
O Congresso reuniu diversas lideranças políticas, movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos, pessoas que pesquisam ou são interessadas na relação entre espiritualidade e questões LGBTI+, e religiosos de diferentes comunidades de fé que puderam compartilhar suas experiências com outras comunidades e grupos, inclusive tratando temas como saúde, política e inclusão. No atual contexto, as comunidades têm diferentes posições nas questões envolvendo suas espiritualidades e a diversidade sexual de gênero, ora apoiando e acolhendo, ora excluindo ou invisibilizando seus fiéis e suas lideranças, tornando, ou não, seus espaços religiosos seguros.
Nancy Cardoso
Ao analisar o processo histórico de lutas da população LGBTI+ em nosso país e o avanço do pensamento conservador nos últimos anos, Nancy Cardoso, teóloga e integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), afirmou que neste momento é central “celebrar a vida”.
“Deus é amor. Mas existe um discurso que destrói as comunidades LGBTI+; destrói os corpos. Esse discurso é fundamentalista e destrói também as famílias. Por isso, precisamos pensar uma teologia que consiga reconstruir a vida, as comunidades, a coletividade”.
Igreja Anglicana
O reverendo Gustavo Gilson, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), descreveu brevemente o processo de conquista de espaço dentro da instituição a qual ele faz parte. Para ele, ocorre uma “tensão entre o evangelho da radicalidade do amor e uma ideia da religião da lei, da normatividade, que quase sempre está a serviço de poderes econômicos e políticos”. Ele também afirmou que os discursos religiosos e cristãos têm tido papel forte na reprodução e fortalecimento no modelo de poder cis-heteronormativo, “portanto é necessário pensar um outro ‘modelo de eclesialidade’ e enfrentar a misoginia e a lgbtfobia”, defendeu.
“Eu sei o que eu passei para ver Deus sorrir para mim”
Um deus que nem sempre sorriu para suas e seus filhas, filhos... A frase é da pastora Alexya Salvador, da Igreja Comunidade Metropolitana (ICM). Junto a ela, somam-se diversas trajetórias nos testemunhos de rejeição das igrejas e comunidades àquelas e àqueles que não se enquadravam nos padrões de normatividade sexual e de gênero eleitos por essas igrejas.
Alexya é hoje a primeira pastora trans da América Latina. E é a partir das trajetórias dessas pessoas excluídas, e por estas pessoas, que ela propõe o debate. “Entender que a partir de nós se desponta um cenário até então não visto, não falado, não só dentro de seus ambientes, mas para o mundo”, disse.
Reverendo Arthur Cavalcante
Os desafios do acolhimento as pessoas da comunidade LGTBI+ em igrejas e espaços religiosos tem sido real. De acordo com o reverendo Arthur Cavalcante, reitor da Paróquia da Santíssima Trindade, a ideia de um Congresso surgiu no final do ano passado pela conjuntura que o país estava atravessando na esfera social, econômica, religiosa e política. “A pergunta era o que podia ser feito para trazer esperança na caminhada de nossas pessoas fiéis? O Congresso surge como uma proposta de usarmos a nossa experiência de Paróquia a serviço das pessoas. Acredito que o Congresso alcançou tais objetivos.”
Segundo o reverendo, foi uma proposta que não só usou as ferramentas/expertises teológicas da IEAB, como também o exercício do ethos anglicano, somado ao jeito da comunidade local de tratar assuntos tão delicados de forma prática e pastoral na última década.
Representações e Carta final
O congresso recebeu pessoas de diferentes estados, além de representações de países como Argentina, Escócia e Estados Unidos. Ao fim do encontro, a plenária do 1º Congresso Igrejas e Comunidade LGBTI+ divulgou uma Carta reafirmando, entre outras coisas, que “toda e qualquer pessoa tem direito de buscar a Deus, o sagrado, a espiritualidade, a fé, a verdade, o amor em qualquer espaço religioso, principalmente em suas tradições de origem”. Leia a íntegra aqui.
CONIC com informações de KOINONIA, Comissão Pastoral da Terra e IEAB
Foto: Julio Cesar Silva/KOINONIA