Lideranças religiosas e espirituais brasileiras, que atuam na Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI Brasil), enviaram, no dia 29 de novembro, uma carta aberta aos representantes do governo brasileiro na COP 28, que está sendo realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, desde o dia 30 de novembro e vai até 12 de dezembro de 2023.
Leia a carta neste link.
Na carta, reconhecem a importância do trabalho feito pelo governo brasileiro nesse primeiro ano, que logrou reverter a tendência de aumento das taxas de desmatamento da Amazônia, obtendo uma significativa redução de 22%. Entretanto, expressam sua profunda preocupação com a crise climática, que já está causando grande sofrimento ao povo brasileiro. Elas destacam que o aumento da temperatura média do planeta acima de 1,5° Celsius, fixado pelo Acordo de Paris, representa uma “ameaça irremediável contra a vida dos seres humanos e da biodiversidade”.
As lideranças apelam à delegação brasileira para que defenda, na COP 28, as seguintes medidas:
• A redução da exploração de combustíveis fósseis em 43% até 2030 e em 60% até 2035, inclusive com a suspensão de novas frentes de exploração, especialmente em ecossistemas críticos para a vida no planeta, como a Amazônia;
• A imediata transferência dos recursos financeiros já prometidos (100 bilhões de dólares anuais) aos países em desenvolvimento, para que eles possam descarbonizar suas economias e se proteger dos impactos do clima;
• A criação de um sistema internacional de transferência de recursos financeiros para os povos indígenas, comunidades tradicionais e proprietários rurais que restauram e preservam as florestas tropicais;
• A adoção de medidas pelo governo brasileiro para garantir que se atinja o desmatamento zero da Amazônia até 2030. Dentre elas: i) o reforço na estrutura da governança socioambiental do país, com a destinação de recursos financeiros adicionais no orçamento fiscal de 2024; e ii) a criação de uma força-tarefa interministerial para reorientar as políticas fiscal, tributária, agrícola e de infraestrutura do governo federal, a fim de eliminar os incentivos que possam impedir que a meta de desmatamento zero seja atingida.
As lideranças religiosas e espirituais concluem o documento afirmando que "o tempo da procrastinação acabou" e que é preciso "ação consequente" para enfrentar a crise climática. Elas reiteram que o Brasil tem a responsabilidade de mostrar que é possível superar o interesse de grupos e corporações em nome do respeito ao direito à vida.
Assinam a Carta Aberta:
Casa Galileia, Comissão Episcopal para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religiosa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, Confederação Israelita do Brasil - CONIB, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC, Diocese Anglicana da Amazônia, Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e Desenvolvimento Social, Instituto Ecumênico de Fé e Política do Acre - IEFP, Instituto de Estudos da Religião - ISER, Ministério Betel no Amapá, Movimento Laudato Sí, Nós na Criação, Projeto Agostinhas, Rede Cristã de Advocacia Popular- RECAP, Rede Eclesial Pan-Amazônica - Repam Brasil, Rede Ecumênica Amazonizar, Religiões Pela Paz Brasil, Renovar Nosso Mundo, Tearfund e União Nacional Islâmica - UNI e Visão Mundial.
SOBRE A INICIATIVA INTER-RELIGIOSA PELAS FLORESTAS TROPICAIS
A Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI Brasil) está ligada ao Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (PNUMA) e visa trazer urgência moral e unir a força espiritual das religiões aos esforços globais para acabar com o desmatamento das florestas tropicais. A IRI se concentra no Brasil, Colômbia, Peru, República Democrática do Congo e Indonésia, os cinco países que, juntos, reúnem 70% das florestas tropicais remanescentes no mundo.
