O CONIC recebeu, com grande pesar, a notícia do falecimento de dom Pedro Casaldáliga neste sábado, 8 de agosto, aos 92 anos. Dom Pedro estava internado em um hospital no interior de São Paulo devido a uma infecção respiratória.
Apóstolo da esperança, tinha a coragem de se colocar ao lado dxs mais desfavorecidxs deste mundo (Mateus 25:40), denunciando com coragem, mesmo em tempos de Ditadura, a opressão que famílias campesinas e povos originários sofriam nas mãos de grandes latifundiários. Por essa luta intransigente em favor da justiça e do Reino de Deus, e pela Reforma Agrária, incomodou aqueles que, em nome do deus-dinheiro, oprimiam o povo.
“Se ‘a primeira missão do bispo é a de ser profeta’, e o profeta é a voz daqueles que não têm voz (card. Marty), eu não poderia, honestamente, ficar de boca calada ao receber a plenitude do serviço sacerdotal”, escreveu em certa ocasião.
Diretoria do CONIC se manifesta
O presidente do CONIC, pastor Inácio Lemke, lembrou do tempo de convivência com dom Pedro, com quem aprendeu grandes valores. “No dia em que lamentamos a morte de 100 mil pessoas no Brasil, Deus também chama para si o profeta dos pobres. Lembro dom Pedro com muito carinho, das caminhadas comuns. Sempre solidário com os povos originários aqui do Brasil e América Latina, com ele também aprendi a ser ecumênico e inter-religioso; a ser corajoso e a manifestar solidariedade com os mais humildes. Vamos sentir a tua falta”.
A presbítera Anita Sue Wright, 1º Vice-Presidente, declarou que dom Pedro era “um homem a serviço de Deus, que foi voz profética e inspirou com suas palavras poéticas o caminhar do povo de Deus na luta pelos valores do Reino, na busca da paz inquieta, da paz com justiça”.
Cônego José Bizon afirmou que dom Pedro foi “um místico com os pés na realidade”. Além de lamentar o atual estado de “destruição da Amazônia na sua totalidade”, justamente uma região que “dom Pedro tanto defendeu”, o 2º Vice-Presidente do CONIC classificou dom Pedro como um “um santo dos nossos dias”.
A reverenda Magda Guedes, anglicana, disse que dom Pedro “viveu intensamente o Evangelho, sendo profeta de anúncio e denúncia a favor do povo excluído! Viveu para e com as pessoas marginalizadas, filhas e filhos de Deus”.
Biografia
Dom Pedro Casaldáliga nasceu em Balsareny, na província de Barcelona, na Espanha, no dia 16 de fevereiro de 1928. Ingressou na Congregação Claretiana (Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria) em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952. Depois de ordenado, foi professor de um colégio claretiano em Barbastro, assessor dos Cursilhos de Cristandade e diretor da Revista Iris.
Em 1968, mudou-se para o Brasil para fundar uma missão claretiana no estado do Mato Grosso, uma região com um alto grau de analfabetismo, marginalização social e concentração fundiária (latifúndios), onde eram comuns os assassinatos.
Foi nomeado administrador apostólico da prelazia de São Félix do Araguaia (MT) no dia 27 de abril de 1970. O papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia no dia 27 de agosto de 1971. Sua ordenação episcopal deu-se a 23 de outubro de 1971, pelas mãos de dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia, de dom Tomás Balduíno, OP, e dom Juvenal Roriz, CSSR.
Sua atividade como bispo teve as seguintes características: Evangelização, vinculada à promoção humana e à defesa dos direitos humanos dos mais pobres; Criação de comunidades eclesiais de base com líderes que sejam fermento entre os pobres; Encarnação na vida, nas lutas e esperanças do povo; Estrutura participativa e corresponsável na diocese. Adotou o seguinte lema para sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar.” Na década de 1970, ao lado de outros bispos, ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Dom Pedro foi alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave, em 12 de outubro de 1976, ocorreu em Ribeirão Cascalheira (Mato Grosso). Ao ser informado que duas mulheres estavam sendo torturadas na delegacia local, dirigiu-se até lá acompanhado do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Após forte discussão com os policiais, o padre Burnier ameaçou denunciá-los às autoridades, sendo então agredido e, em seguida, alvejado com um tiro na nuca. Naquele lugar foi erguida uma igreja.
No ano 2000, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas. Em 13 de setembro de 2012, recebeu honraria idêntica da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Em 2005, dom Pedro, que sofria do mal de Parkinson, apresentou sua renúncia à Prelazia, e foi sucedido por dom Frei Leonardo Ulrich Steiner, OFM.
“Eu morrerei em pé, como as árvores
Me matarão em pé.
O sol, testemunha maior, imprimirá seu lacre
sobre meu corpo duplamente ungido.
De golpe, com a morte se fará verdade a minha vida.
Por fim, terei amado!”
Dom Pedro Casaldáliga (1928-2020)
Com informações da CNBB (biografia)
Foto: Arquivo pessoal