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Eparquia mantém viva a fé e a tradição do povo sírio-libanês

 
Desde 23 de maio, Dom Sergio de Deus Borges, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Vigário Episcopal para a Região Santana, também exerce a missão de Administrador Apostólico da Eparquia Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso, cuja sede está localizada na Capital Paulista. Ele foi nomeado pelo Papa Francisco após a transferência do então Eparca, Dom Joseph Gébara, para a Arquieparquia de Petra e Filadélfia, na Jordânia. A principal tarefa de Dom Sergio é ajudar o clero e os fiéis na revitalização pastoral e administrativa da Eparquia até que seja nomeado um novo Eparca.
 
Instituída em 26 de maio de 1972, pelo Beato Paulo VI, essa Eparquia é uma circunscrição eclesiástica de rito oriental, equivalente a uma diocese, cujo território abrange todo o Brasil. Sua missão é acompanhar e reunir os fiéis de origem sírio- -libanesa e seus descendentes que vivem no Brasil e desejam cultivar suas raízes e identidade culturais. 
 
IGREJA ORIENTAL
 
Para entender melhor o que é Igreja Católica Greco-Melquita, é preciso saber que ela é uma das 24 igrejas autônomas que constituem a Igreja Católica no mundo, em plena comunhão com o Romano Pontífice, o Papa. 
 
A maior e mais conhecida delas é a ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, também chamada de Igreja Latina, de rito romano. As demais têm sua origem no Oriente Médio e seguem os diversos ritos orientais. 
 
Todas as 24 igrejas são sui iuris, isto é, autônomas para legislar a respeito de seu rito e da sua disciplina, com exceção às matérias dogmáticas, que são universais e comuns a todas e garantem a unidade de fé, formando uma única Igreja Católica sob o pastoreio do Santo Padre que a todas preside na caridade.
 
Internamente, as igrejas orientais são governadas por um patriarca ou arcebispo-maior e por seu sínodo que o elege e submete seu nome à aprovação do Papa. No caso da Igreja Greco-Melquita, o atual Patriarca é Youssef I Absi, eleito em 21 de junho de 2017. 
 
HISTÓRIA
 
Criada em Antioquia, a Igreja Greco- -Melquita é a mais antiga Igreja enquanto instituição no mundo e é a única entre as orientais que não é uma Igreja nacional, pois seu patriarcado envolve três sés apostólicas: Antioquia, Jerusalém e Alexandria. 
 
O nome Melquita vem de mèlek, que é a raiz siríaca para palavras como “rei”, “real” e “reino”. Isso se deve ao fato de todos aqueles que ficaram ao lado do imperador bizantino Marciano no Concílio de Calcedônia, no ano 451, defendendo a fé nas duas naturezas de Cristo, terem sido apelidados de “reais” pelos monofisistas, aqueles que não aceitaram esse dogma. 
 
Já o termo “greco” é atribuído ao idioma oficial do Império Romano, falado pela maioria dos cristãos. Isso também influenciou o rito adotado pelos Melquitas, conhecido como bizantino, cuja Divina Liturgia foi escrita por São João Crisóstomo e São Basílio de Cesareia. Atualmente, o idioma oficial da liturgia do melquitas é o Árabe, mas também há orações em Grego e no idioma do país onde se celebra a liturgia, no caso do Brasil, o Português. 
 
CATÓLICA
 
Embora tenham os mesmos ritos e origens, a Igreja Greco-Melquita é plenamente católica, enquanto que sua “igreja irmã”, a Ortodoxa Antioquina, está separada da comunhão com Roma e possui hierarquia própria. 
 
A origem dessa história remete aos séculos IV e V, quando as cinco primeiras Igrejas apostólicas receberam o título de patriarcados, dando origem à chamada pentarquia: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Na pentarquia, o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, tinha o primado de honra entre os demais patriarcas, sendo o primus inter pares (o primeiro entre os iguais) na ordem de precedência das Igrejas.
 
Em 1054, aconteceu o famoso “Grande Cisma” entre as igrejas do Ocidente e do Oriente, resultante de um longo processo motivado por questões políticas, culturais, eclesiásticas e doutrinais. Assim, as Igrejas dos quatro patriarcados orientais que se separaram denominaram-se ortodoxas. Apesar do Cisma, muitas comunidades orientais não manifestaram total rompimento com Roma, embora o Patriarcado de Constantinopla, que passou a ter o primado de honra entre os ortodoxos, exercia uma forte influência sobre as igrejas do Oriente para manterem-se separadas do Ocidente. 
 
Em 1724, após a morte do Patriarca de Antioquia Atanásio III Dabbas, foi eleito o Patriarca Cirilo Tanás, que era favorável à comunhão com Roma. Em oposição a essa eleição, o Patriarca de Constantinopla nomeou um patriarca com posicionamento contrário à comunhão, Silvestre, o que originou duas linhas de sucessão patriarcal: a católica e a ortodoxa. Esse movimento de união dos Melquitas com à Sé de Pedro foi bastante motivado pela presença dos missionários católicos europeus – jesuítas, franciscanos, capuchinhos e carmelitas – na região. 
 
NO BRASIL
 
Os primeiros cristãos greco-melquitas imigraram para o Brasil entre os anos de 1869 e 1890, e foram genericamente chamados de “turcos”, pelo fato de seus passaportes terem sido fornecidos pelo Império Otomano. Com o crescimento dos imigrantes, a Igreja Católica Greco- -Melquita começou a se preocupar com os seus fiéis na diáspora e, em 1939, enviou ao Rio de Janeiro seu o primeiro Pároco, o Arquimandrita (equivalente a Monsenhor) sírio Elias Couéter, que, durante muitos anos, foi o único sacerdote melquita no País. 
 
Em 1946, Dom Jaime de Barros Câmara, então Arcebispo do Rio de Janeiro, erigiu a primeira paróquia Greco-Melquita do Brasil, dedicada a São Basílio. Depois de o Patriarca Maximos IV insistir junto à Santa Sé para que existisse uma disciplina eclesiástica adequada para a sua Igreja na diáspora, em 1951, o Papa Pio XII instituiu um Ordinariado para os fiéis católicos de rito orientais no Brasil, tendo como Ordinário Dom Jaime Câmara, que nomeou o Arquimandrita Couéter como Vigário-Geral para os Greco-Melquitas, função que exerceu até ser nomeado, em 1972, bispo e primeiro Eparca da recém- -criada Eparquia Nossa Senhora do Paraíso, cuja sede foi fixada na paróquia de mesmo nome, elevada a catedral, no bairro do Paraíso. 
 
‘A NOSSA EPARQUIA NÃO PODE DEIXAR DE EXISTIR´
 
Com a transferência de Dom Gébara, quinto Eparca melquita no Brasil, e sem contar com um Colégio de Consultores para eleger um Administrador Eparquial dentre seus padres até a nomeação de um novo pastor, a Santa Sé nomeou Dom Sergio para acompanhar essa comunidade oriental e ajudar a organizá-la.
 
“A Igreja Greco-Mequita tem uma tradição litúrgica e pastoral muito rica e bela que eu não conhecia. Mergulhar neste modo de ser Igreja está sendo uma riqueza para mim, porque estou tendo a oportunidade de conhecer e viver uma perspectiva nova na compreensão e vivência da Divina Liturgia, da pastoral e da relação entre os leigos e o clero. Também levo para a Eparquia nossa experiência pastoral, estruturas de governo da Igreja e os caminhos de corresponsabilidade entre os leigos e o clero em vista da evangelização e da vivência da fé na realidade do Brasil”, afirmou Dom Sergio ao O SÃO PAULO. 
 
Desde que assumiu a função, Dom Sergio começou a se reunir com o clero e com os fiéis de São Paulo e das outras paróquias para entender mais a situação. Além da Catedral, a Eparquia tem paróquias no Rio de Janeiro, Juiz de Fora (MG), Fortaleza (CE) e Taubaté (SP). 
 
A primeira grande medida foi a constituição do Colégio de Consultores e do Conselho de Assuntos Econômicos do governo da Eparquia. Foram nomeados: Monsenhor Joaquim José Stein, Chanceler; Philip Fouad Louka, Vigário Geral Delegado; e Padre Ziad Alkhoury, Ecônomo. 
 
O Administrador Apostólico também se reuniu com o Conselho Greco-Melquita, entidade constituída de fiéis leigos responsável pela gestão do patrimônio da Eparquia. Ao contrário do que acontece nas dioceses latinas, o patrimônio da Eparquia, inclusive os templos, não está em nome da Igreja, mas desse conselho. “Estamos dialogando em vista de uma parceria mais proativa em favor da Comunidade Greco-Melquita”, afirmou Dom Sergio. 
 
MANTER VIVA A CULTURA
 
Nascido na Síria, Padre Ziad está há 15 anos no Brasil. Ele descreveu que o grande desafio pastoral da Eparquia é ir ao encontro dos fiéis que estão dispersos pelo País. “Hoje existe um grande número de fiéis de origem sírio-libanesa no Brasil, mas nem todos eles moram próximos das nossas igrejas. Muitos acabam se adaptando às igrejas latinas próximas de suas casas, uma vez que são católicos. No entanto, nas grandes festas, como Natal e Páscoa, essas pessoas vêm participar de nossas celebrações, pois sentem saudade das liturgias”, relatou. 
 
Por essas razões, os greco-melquitas não conseguem contabilizar quantos fiéis existem hoje na Eparquia. “Em São Paulo, que é uma cidade imensa, nós temos apenas a nossa catedral. Isso dificulta que eles participem das nossas celebrações”, completou o Padre. 
 
Há, ainda, a procura por fiéis latinos interessados em conhecer o rito bizantino e participar das liturgias, sobretudo durante a semana. Por se tratar de uma Igreja Católica, não há necessidade de alguma licença ou autorização para participar de um rito oriental. Contudo, quando procurados por pessoas que desejam “mudar de rito”, os padres melquitas a orientam a permanecer em sua tradição. “A pessoa pode participar do rito bizantino e continuar fiel na sua Igreja de origem”, explicou Padre Ziad.
 
ACOLHIDA AOS IRMÃOS
 
Nos últimos anos, a Igreja Greco-Melquita no Brasil tem vivido uma nova experiência migratória causada pela guerra civil na Síria. “Nós abrimos a nossa casa e recebemos aproximadamente 40 famílias da Síria. Muitas dessas pessoas chegaram ao aeroporto, não sabiam para onde ir, se informaram sobre o nome da Igreja e chegaram aqui”, informou o Padre Ziad. 
 
Essas famílias recebiam hospedagem até conseguirem se adaptar ao idioma, encontrar moradia e emprego. A Eparquia também promoveu uma campanha de doações de roupas e alimentos para esses e outros migrantes sírios. 
 
Experiências como a da acolhida dos migrantes sírios justificam a permanência da Igreja Greco-Melquita no Brasil, pois sua principal missão é manter viva a fé, a cultura e a identidade de um povo que deixou sua terra em busca de uma vida melhor. 
 
“A nossa Eparquia não pode deixar de existir, não podemos fechá-la, pois ela não é só nossa. Temos que nos empenhar para deixar uma herança para aqueles que virão e darão continuidade a essa missão”, enfatizou Padre Ziad. Ele reconheceu que a Eparquia não cresceu, mas estagnou-se e não acompanhou o ritmo do crescimento e expansão de seus fiéis pelo País. “Nosso desafio é ir ao encontro desses irmãos”, completou.
 
Padre Ziad afirmou que Dom Sergio tem feito uma “revolução” na Eparquia. “Ele está sendo muito bem quisto pela comunidade. As pessoas até comentam que gostariam que ele fique conosco. É uma pessoa simpática, humilde e muito próxima”. 
 
A acolhida também foi sentida por Dom Sergio. “Chamou-me a atenção e me comoveu a atitude de acolhida por parte da Comunidade Melquita. Quando eu era seminarista, tive contato com os textos espirituais dos padres da Igreja no Oriente e me alegra que hoje estou celebrando e vivenciando deste manancial de espiritualidade”, relatou. Ainda segundo ele, mesmo sendo um bispo latino à frente da Igreja oriental, consegue ver nas pessoas abertura e desejo de contribuir no caminho que a Eparquia deverá percorrer em busca de sua revitalização pastoral.
 
Fonte: O São Paulo
Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

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