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Lavar as mãos ou dar as mãos? Por Iradj Roberto Eghrari

 
Vivemos em tempos de pandemia e a ordem do dia é não dar as mãos e sim lavar as mãos! E nos defrontamos com uma contradição, pois quem lavou as mãos foi Pilatos! Mas hoje compete a nós lavarmos as mãos no sentido da segurança sanitária e darmos as mãos na dimensão da empatia, da compaixão, da colaboração e do amor ao próximo!
 
A nossa mão ao ser ofertada ao outro pode ser o movimento salvador que retira alguém do afogamento nos revezes da vida,  de uma situação de desespero, de uma situação de perda de rumo. Enquanto a pandemia vai tomando uma dimensão cada vez maior em nosso país e não nos darmos as mãos significa o mesmo que lavarmos as mãos ou seja não nos importarmos com o próximo e seguirmos nossa vida com nossos desejos e caprichos na busca hedonista do prazer ou do interesse próprio. E com isso fazer com que efetivamente sejamos um elemento de risco para os demais além, é claro, para nós mesmos. É o que temos visto seja nos grandes centros ou nas pequenas cidades, onde as pessoas se aglomeram pelo simples prazer de “curtir a vida“ ou de buscar o que legitimamente creem lhes pertencer.
 
Temos recebido continuamente apelos emocionados por parte da OMS, e  inclusive agora de governadores e prefeitos em nosso país que apelam para que as pessoas usem de compaixão, usem de empatia e se sensibilizem ao fato de que estamos alcançando quase a casa de 3.000 mortos por dia no Brasil, vidas que são perdidas para o coronavirus.  
 
Mas porque tais apelos não surtem efeito generalizado nos corações e  mentes? Muitos alegam que é importante manter a economia em movimento, e que através de medidas de distanciamento, lockdown e outras estamos destruindo o sistema econômico.  E essa é uma contradição paralisante: se quisermos continuar tocando a economia desta forma,  veremos mais e mais mortes, e a imunidade de rebanho tão esperada que não será alcançada por este meio e sim pela vacinação em massa, levará a própria economia a provar o amargo gosto da sua queda vertiginosa. A solução encontra-se nos poderes do espírito humano. 
 
“O propósito de Deus e dos homens ao criar instituições não foi outro senão o de prover instrumentos de organização e serviço à humanidade. Aqueles que atuam nestas instituições, sejam governamentais, da sociedade civil ou religiosas, têm o dever de trabalhar para o bem-estar da sociedade. Compete às instituições guiar e animar as almas em momentos difíceis. Nutrir em cada ser a visão do horizonte iluminado pelos Ensinamentos Divinos e inspirá-los a perseverar em seu empenho de prover progresso espiritual e material à humanidade” , afirma a Assembleia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil, em sua mensagem de Naw-Rúz, o Ano Novo Bahá’í, comemorado no ultimo dia 20 de março. Assim, as instituições devem sim ser permeadas pelo espírito de empatia, solidariedade, colaboração e... amor! Sim amor!
 
 De outro lado está o papel dos indivíduos para demonstrarem, afirma a Assembleia Nacional Bahá’í, “esforços sinceros de serem como raios do mesmo Sol, exemplos de resiliência e determinação” e assim inspirarem  mais e mais pessoas.” 
 
Somente quando esta equação for devidamente equilibrada e solucionada, instituições de um lado e indivíduos de outro,  é que poderemos ver a extensão que o espírito humano é capaz de alcançar em soluções até então desconhecidas para a segurança e paz da sociedade.
 
A não obtenção do equilíbrio acima leva ao agravamento da pandemia. E são os pobres os maiores alvos desta crise sanitária. Pois são eles que são obrigados a utilizar os ônibus superlotados, obrigados a transitar em ambientes de grande aglomeração como rodoviárias, estações de trem, de metrô pois precisam garantir seus empregos e sua sobrevivência. Só um espírito de empatia e solidariedade permeando instituições e a vida de cada pessoa é que gerará recursos para que ninguém fique à mingua em tempos de escassez de meios de vida digna que acomete os mais pobres e desprovidos em tempos pandêmicos como estes em que ora vivemos.
 
A equação entre economia e proteção deve se  solucionar pela união por parte das lideranças políticas, econômicas e governamentais em torno de seu papel de “trabalhar para o bem-estar da sociedade” e de outro deve haver uma união sem precedentes entre todos os povos da terra do nível global, nacional, regional, estadual, municipal e até em bairros, para que cada pessoa que passa por uma dificuldade intransponível e insuportável possa ser acolhida com máxima empatia e espírito de solidariedade, com “esforços sinceros de serem como raios do mesmo Sol, exemplos de resiliência e determinação”.
 
O apelo pela unidade planetária, o apelo pela união dos povos, o apelo pela empatia e solidariedade deixa de ser algo de uma  dimensão emocional, como se quem faz tal apelo vivesse uma realidade com uma tintura rósea, para se tornar um apelo objetivo, pragmático e necessário nos dias atuais.
 
Que está união será alcançada não há dúvidas. Vivemos, porém, tempos sombrios. Afirma a Casa Universal de Justiça, o órgão máximo da Fé Bahá’í
 
 “Um sintoma claro da intensificação do mal-estar da sociedade é o constante declínio do discurso público a um maior rancor e inimizade, refletindo enraizados pontos de vista partidários. Uma característica predominante de tais discursos contemporâneos é o modo como a discordância política rapidamente degenera em impropério e zombaria. Contudo, o que especificamente diferencia a época atual das que a precederam é a amplitude com que muito desse discurso ocorre diante dos olhos do mundo inteiro. As mídias sociais e suas ferramentas de comunicação tendem a dar a máxima exposição a tudo que é controverso, e essas mesmas ferramentas permitem que indivíduos instantaneamente disseminem mais amplamente tudo que lhes chame a atenção, e que manifestem seu apoio ou oposição a variadas opiniões, seja explícita ou tacitamente.” 
 
Mas qual será o caminho para sairmos deste impasse? Há dois segundo afirma a Casa de Justiça:
 
“Se essa paz será alcançada somente depois de horrores inimagináveis, precipitados pelo apego obstinado da humanidade a velhos padrões de comportamento, ou se será concretizada agora através de um ato de vontade coletiva - eis a escolha que se oferece a todos os que habitam a Terra. Nesta conjuntura crítica, em que os problemas de difícil tratamento que confrontam as nações foram fundidos numa preocupação comum pelo bem-estar do mundo todo, a nossa inércia face à maré de conflitos e de desordem seria por demais irresponsável.”
 
Portanto... não lavemos as mãos! Que nos desapeguemos dos velhos padrões de comportamento e abramos caminho para um novo capítulo na história humana, que forçosamente estamos sendo convidados a adotar em meio a esta pandemia. A escolha é nossa. Somente nossa. 
 
Iradj Roberto Eghrari é membro da Comunidade Bahá’í
 
Foto: Pixabay
 
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