“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.
Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram
Chamados e chamadas para viver em paz, como membros de um só corpo.
E sejam agradecidos e agradecidas.” (Colossenses 3:14-15)
Todos os anos, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) compartilha sua mensagem de Natal. Geralmente, fala das alegrias do ano que finda e das esperanças para o ano que inicia.
Este ano, no entanto, nosso enfoque precisa ser diferente.
Isso porque o ano de 2019 foi caracterizado por fundamentalismos religioso e econômico ultraneoliberal. Estes fundamentalismos se tornaram concretos nos retrocessos sociais; na criminalização dos movimentos populares e das ONGs; na difamação e ataque às universidades públicas; no ataque que vulnerabiliza a produção cultural, incluindo artistas, produtores e produtoras; na exaltação às ditaduras latino-americanas, cujas feridas estão abertas; na perseguição aos povos originários e tradicionais; no extermínio da juventude negra, simbolizado por Paraisópolis; no aumento da violência contra as comunidades LGBTQI+; no crescimento do feminicídio; na violência contra os povos de terreiro; nos crimes ambientais, como as queimadas na Amazônia e no crime da mineração, em Brumadinho; nos arrochos econômicos que pesam sempre no bolso dos mais pobres, entre outros.
Na noite do 24 de dezembro, celebramos Jesus em uma estrebaria. Jesus, o sem lugar. Jesus, o excluído. A criança marcada para morrer. Celebrar o Natal representa não negar a essência da fé, que é a irrupção de Deus na história para subverter as estruturas opressoras de poder.
No Brasil, provavelmente, Jesus nasceria em Paraisópolis e poderia ser um jovem com a vida brutalmente interrompida pela violência policial. Não é possível celebrar o nascimento de Jesus afirmando o ódio, o racismo e outras formas de preconceito. Há uma dissonância profunda entre a fé em Jesus Cristo e a negação do amor (1 João 4:20).
Muitos orgulham-se em afirmar que o Brasil é uma nação cristã. Acreditamos que este não é um motivo de orgulho quando consideramos tanto vilipêndio aos Direitos Humanos, o culto ao dinheiro, extermínio daqueles e daquelas que atrapalham os interesses dos grandes grupos financeiros. Olhando para o Deus-criança, na manjedoura em Belém, cabe perguntar: será que Deus deseja o sacrifício das pessoas pobres em benefício do enriquecimento de poucos?
A nossa fé é em um Jesus que desde o seu nascimento foi perseguido pelos poderes de seu tempo. Este Jesus foi imigrante (Mateus 2:13), esteve preso (João 18:12), defendia as pessoas excluídas (Mateus 21:31), se preocupava os oprimidos (Lucas 20:47), rompia paradigmas cristalizados (João 8:7) e, de modo algum, compactuava com a hipocrisia dos poderosos.
A melhor resposta pelo nascimento de Jesus é a prática do amor, que rompe com os medos, com os preconceitos, com os racismos, com o ódio. Que esse Jesus seja nossa inspiração e provocação para o nosso pensar, falar e agir em 2020.
Que este Natal seja de reflexão sobre a fé em Jesus Cristo e que o Ano Novo nos encoraje a reavaliarmos a nossa humanidade.
CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil