“Então ela julgará as nações e será árbitro de povos numerosos.
De suas espadas eles fabricarão enxadas e de suas lanças farão foices.
E nenhuma nação pegará em armas contra outra e ninguém mais
vai se treinar para a guerra… Vamos caminham na luz de Javé.”
(Isaías 2.4-5)
O Tempo Litúrgico assinala o início do Ano Cristão neste Primeiro Domingo do Advento, em preparação para a Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Natal. Em muitos lugares a Coroa do Advento, a Árvore de Natal e o Presépio são organizados como símbolos a nos recordar que devemos nos preparar adequadamente, conforme nossa fé, reafirmando nosso compromisso em seguir e deixar-nos guiar por Jesus, “deixar-nos guiar pela luz de Deus”. E isso, necessariamente, ocorre num contexto e experiência histórica de vida. Não envolve somente nosso coração ou alma, mas, sim, nossa vida, real, concreta de cada dia. Sabemos que a mensagem do Advento é de julgamento e de esperança. Recordar, trazer a memória e experimentar o Deus conosco, de novo, traz como consequência julgamento, julgamento de todas as “obras das trevas”, mas traz também esperança, esperança porque um novo tempo está começando, em que prevalecerão “as obras da luz”.
Estarrecidos experimentamos no tempo presente as trevas e o abandono que o próprio Jesus vivenciou na cruz. Aumento da violência contra as mulheres, contra jovens, contra os povos originários, comunidades quilombolas, contra a Amazônia e meio ambiente, a perda de direitos básicos garantidos pela Constituição, o enfraquecimento da democracia, entre outras situações. E o que é mais estarrecedor ainda é ver pessoas ditas cristãs, pessoas ditas do bem, compactuando com tudo isso. Jesus, Filho e enviado de Deus, se apresenta nesse contexto, como podemos nos preparar para percebê-lo entre nós? Como anunciar tempo de esperança nesse contexto?
Nossa preparação inicia na reafirmação do nosso compromisso com Deus e seu Reino, que antagonizando-se com o que aí está, opta pelo caminho da luz, opta por transformar instrumentos de guerra em instrumentos de produção de alimentos, opta pelo caminho da paz e da solidariedade.
Vejo, em meio as dores e sofrimentos deste mundo, muita gente, por causa da sua religião, ou do exercício de uma cidadania responsável, ou por outra motivação buscando viver fraternalmente. Optam pela solidariedade em lugar do incentivo e a prática da violência, acolhem, em vez de excluir, amam, em vez de odiar. Constroem, em vez de destruir. Há muitas ONGs, indivíduos, grupos, professores, instituições religiosas e inter-religiosas, movimentos sociais, agindo verdadeiramente como filhos da luz. Eles estão gestando, com certeza, um novo tempo. Tenho sido testemunho de muitas dessas experiências ocorrendo diante de nós. Por isso, e por causa de Jesus, é que podemos dizer que o Advento é tempo de esperança.
A Epístola aos Romanos nos lembra: “...já é hora de vocês acordarem, a nossa salvação está agora mais próxima... A noite vai avançada e o dia está próximo. Deixemos, portanto, as obras das trevas e vistamos as armas da luz” (13.11-12)
Convido para que vivenciemos este Advento com profunda espiritualidade, reflexão e oração. Que essa atitude nos conduza ao fortalecimento da “fé, da esperança e do amor” e que tudo isso se transforme em ações de amor e solidariedade para com todas as pessoas e com a criação de Deus.
Com minhas orações e bênção,
+ Naudal Alves Gomes
Bispo Primaz