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Vacina: com-ciência e consciência a partir da fé em Cristo

 
Por bispo Humberto Maiztegui, Diocese Meridional, IEAB
 
Enfrentamos, a partir de janeiro de 2020, e a partir de março no Brasil, a primeira grande pandemia do século 21. Coincidentemente, ou não, um século depois da primeira grande pandemia do século 20 (a chamada “Gripe Espanhola”). A comparação entre uma e outra não lança muitas luzes. É só lembrar quanto mudou nossa vida nos últimos 50 anos, ou até nos últimos 30 ou 20 anos (o início do século). Hoje nos comunicamos, comemos, bebemos, de formas muito diferentes. Vivemos as consequências do tratamento dado ao meio ambiente (Criação, Casa Comum), de uma forma que algumas décadas atrás não poderíamos nem imaginar. Finalizamos o século 20 com a consciência de que algumas doenças tinham sido extintas ou estavam neutralizadas em seu potencial epidêmico/pandêmico (sempre graças à vacinação). No entanto, alguns sinais estavam sendo dados de que novos vírus poderiam ser novos causadores de morte em nível global. Por quê?
 
Causas é que não faltam e por isso proliferam as chamadas “teorias da conspiração” que querem “culpar” pelas novas ameaças de morte contra a humanidade esta ou aquela potência mundial, este ou aquele interesse de dominação política e econômica. A aparente veracidade destas teorias se ancora no fato de que, no sistema de lucro que vivemos, sempre tem alguém lucrando (a resistência de liberar as patentes das vacinas é uma prova disso). No entanto, há causas bem mais generalizadas e evidentes que podem gerar consciência, no lugar de gerar medo e negação, como geralmente o fazem as teorias conspiratórias e as “fake news” (que as acompanham).
 
O chamado “aquecimento global” é resultado de tudo o que fizemos com a Casa Comum, e o que continuamos a fazer. Está cientificamente comprovado que existe, sim, este fenômeno, que está ligado aos gases do efeito estufa que geramos quando já, como no caso dos veículos elétricos e geração de energia solar e eólica, poderíamos estar fazendo diferente. Hoje no mar há mais plástico que peixes. Seguimos destruindo os biomas em ritmo acelerado (como a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica), damos rédea solta ao consumismo (comprar e consumir sem necessidade só por ter dinheiro para gastar), ampliamos o uso de agrotóxicos e transgênicos e não respeitamos os povos originários que detêm o conhecimento ancestral do convívio harmônico com o meio ambiente (expulsando-os da pouca terra que lhes restou). Além disso, aprofundamos a desigualdade entre pessoas, países e regiões, umas ricas e outras pobres (como ficou evidente também na distribuição e administração das vacinas contra o COVID 19). Estas atrocidades nada tem a ver com a vontade criadora de Deus que, segundo o relato de Gênesis, viu que era tudo muito bom (Gênesis 1,31); nem com o sentido do “Verbo”, a Palavra Encarnada de Amor, Jesus Cristo, que segundo o Evangelho “n’Ele estava a Vida e esta era a luz da humanidade” (João 1,1-4).
 
Se olharmos para o “conjunto da obra” há razões demais para que a humanidade seja afetada por pandemias e outros males. No entanto, isto não é um problema da “ciência”, pelo contrário, são os estudos científicos que têm mostrado para onde estamos indo. Embora a ciência também tenha seus problemas internos, ela se mostra verdadeira ao observar a realidade. Se houvesse alguma cura para a pandemia que não fosse a vacina, ou que dispensasse seu uso, ou se houvesse outra forma de atingir a “imunidade coletiva” sem vacinação, não teria isso ficado evidente em algum país ou região? Quem defende estas teorias diz que sim, desconfia de todos os dados que dizem o contrário, e enquanto faz isso, países que testaram e vacinaram em massa vão diminuindo as mortes, e outros as contam diariamente aos milhares (como é o caso do Brasil). Em quem acreditar? Em quem busca culpados misteriosos enquanto passa pano na destruição de toda a Casa Comum, ou quem usa a ciência para entender o sentido da defesa da vida em todas suas formas? Jesus também nos deu a chave para discernir neste sentido: “Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” (Mateus 7,20).
 
Tomar vacina, qualquer vacina aprovada pelos organismos reguladores, é o instrumento que temos a partir da “ciência”, não para resolver as causas, mas para conter as consequências do que estamos fazendo com a vida humana e planetária. O que realmente pode nos salvar é a “consciência”, tanto para nos vacinar o quanto antes, quanto para usar máscara e manter todas as medidas de distanciamento e prevenção – como continuam fazendo países bem mais avançados na vacinação – até que a ameaça de morte seja realmente contida e não contemos milhares de mortes por dia. Mas, é também a “consciência” que pode transformar o medo das “fake news” e das teorias da conspiração, em ações concretas de cuidado com o meio ambiente através da produção orgânica, transformação do consumismo em solidariedade com as pessoas necessitadas e vulneráveis, respeito pela vida e conhecimentos ancestrais dos povos originários, superação do racismo, machismo, e todas as formas de ódio que justificam a desigualdade e não respeitam a dignidade de cada pessoa humana e de toda a criação.
 
A consciência de que falamos foi resumida por Jesus em sua visão dos mandamentos. Primeiro quando responde a “fariseu” (religioso legalista de sua época) dizendo: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22,36-40). E, depois, quando traz um “novo mandamento”: “Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13,34-35). Tomar a vacina é um ato de amor consciente, não apenas pela vida que nos foi dada como dom de Deus, mas por todas as outras pessoas, para que ao alcançar mais de 70% de imunidade vejamos cair ou até desaparecer as mortes diárias por COVID. Também sinaliza nossa consciência de que muito mais teremos que fazer para vacinar o mundo deste engano diabólico que desrespeita a criação de Deus e promove o sofrimento, a violência, a exclusão de nossas irmãs e irmãos.
 
Vacinemo-nos! Depois de receber a vacina, agradeçamos a Deus porque nós chegamos com vida até este momento, e mais de 500.000 outras pessoas não conseguiram. Ainda, tendo agradecido, coloquemo-nos à disposição de Deus para seguir os passos de Cristo, para cumprir os seus mandamentos de amor, e para promover uma sociedade melhor para todas as pessoas e toda a criação.
 
Fonte: IEAB
Imagem: Reprodução

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