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8 de Março - O uso da bíblia para violentar, matar e culpabilizar mulheres

8 de Março - O uso da bíblia para violentar, matar e culpabilizar mulheres

No Brasil, desde a invasão dos povos europeus, a leitura patriarcal e colonizadora da bíblia tem sido usada para violentar, matar e culpabilizar as mulheres, os povos de África e os povos indígenas. Nos últimos anos, essa leitura excludente e opressora dos textos bíblicos ficou ainda mais evidente, pois esteve aliada ao aprofundamento das mazelas do capitalismo e tem sido reverberada por governos estruturados em um projeto de morte, consolidado nos discursos religiosos colonizadores e patriarcais. 

O Cristianismo hegemônico, vociferado pelas lideranças religiosas donas das grandes emissoras de comunicação, pretende existir e exercer poder dentro do modelo hegemônico ocidental. Da mesma forma, o capitalismo globalizado apropria-se do discurso do sagrado e se apresenta como grande realizador da história humana. Basta observar a nítida semelhança com o ser predestinado e a meritocracia. Assim, o discurso das igrejas hegemônicas reforça a inevitabilidade do mercado e a necessidade de criar entes excluídos (mulheres, pessoas LGBTs, povos originários, quilombolas, classe trabalhadora...), gerando a pobreza, a alienação e a violência. 

A transformação do corpo e da vida inteira da mulher em propriedade privada tem sido uma das grandes funções do discurso cristão hegemônico para a manutenção do sistema econômico, pois, para este, é primordial garantir a reprodução dos meios de produção e das forças produtivas, ou seja, da força de trabalho. Nesse sentido, torna-se fundamental que a proposta ecumênica aborde a função da reprodução econômica e ideológica no capitalismo.

Lembremos de que o trabalho doméstico é elemento vital para a manutenção do sistema econômico: ele não produz mercadoria, mas, garante a força de trabalho, garante que o trabalhador retorne para produzir (alimenta, veste, cuida da saúde...). É um trabalho historicamente não ou mal remunerado, um mecanismo a mais na produção e apropriação da mais-valia. Nesta questão, o discurso do Cristianismo hegemônico é ainda mais conveniente. 

O corpo da mulher, transformado em propriedade, é vital para a reprodução das forças de trabalho. E com o corpo e a mente expropriados de si e apropriados pelo estado e a igreja, em seu trabalho doméstico, tornam-se, muitas vezes, reprodutoras da ideologia que as oprime. O discurso da igreja cuidou de garantir o trabalho doméstico e com grande aliança com o discurso do amor romântico cuidou de dominar os corpos das mulheres. 

Ao continuarmos lendo a bíblia a partir dos desencadeadores de sentido de uma prática colonizadora centrada na manutenção do poder dos homens brancos, ricos, heterossexuais, vamos continuar violentando os corpos que têm o seu direito ao sagrado impedido por essa leitura. Assim, precisamos de uma leitura do texto bíblico verdadeiramente libertadora, que consiga contemplar as questões de classe, gênero, sexualidade, etnia, sem acepção de pessoas e, no exemplo do movimento do Jesus Nazereno, uma leitura voltada para a construção do Reino de Deus na Terra onde haverá vida plena e abundante para todas as pessoas.

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Texto: pastora Camila Oliver, atual presidenta da Aliança de Batistas do Brasil
O título dessa mensagem é de responsabilidade do CONIC e não constava no texto original

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