No dia 23 de junho, a Catedral Episcopal Anglicana de Brasília (IEAB), o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), a Iniciativa das Religiões Unidas (URI), a Conferência dos Religiosos do Brasil, regional Brasília, e a Rede Nacional da Diversidade Religiosa e Laicidade (RENADIR) realizou um ato inter-religioso em solidariedade e apoio aos povos indígenas.
A atividade fez memória e pediu justiça pela morte do indigenista Bruno e do jornalista Dom, assassinados no Vale do Javari. Na ocasião, foi apresentado um manifesto inter-religioso em apoio aos e às servidoras da FUNAI e aos povos indígenas.
O manifesto está disponível para adesão neste link.
Abaixo, leia a íntegra do manifesto:
Manifesto inter-religioso de apoio aos povos indígenas, indigenistas e servidores da FUNAI
Quem morre vira semente! Esta é a frase que foi recorrentemente afirmada por representações indígenas ao longo de toda a pandemia da COVID-19. Ao virarmos semente, a existência assume outros significados que servirão de consolo, orientação e força para quem ficou.
Hoje, 23/06/2022, fazem sete dias que as mortes de Bruno e Dom foram confirmadas, após dez dias de profunda angústia e ausência de respostas. Bruno e Dom foram assassinados de várias formas. Além da barbárie do crime, a dignidade de ambos foi assassinada por autoridades políticas que tentaram desqualificar a história destes dois filhos do Brasil. Bruno e Dom tinham como missão de vida a defesa dos povos das florestas, a proteção às comunidades indígenas de recente contato e a coragem profética de contar ao mundo, em palavras e ações, tanto sobre o modo de vida das comunidades indígenas do Vale do Javari, quanto sobre as capilaridades entre crime organizado, pesca ilegal, mineração e outras formas de destruição da floresta e suas múltiplas formas de vida.
Bruno e Dom viraram sementes, ou, como expressou Beatriz de Almeida Matos, antropóloga e companheira de Bruno, tanto na vida, quanto na luta pela defesa dos povos indígenas, os espíritos de Bruno e Dom passeiam pela floresta e estão espalhados entre nós, por isso, a força de lutar por políticas indigenistas e pelas florestas torna-se mais forte.
Esta força impulsiona o movimento que desvela a política anti-indígena promovida pelo atual governo. Os e as servidoras da FUNAI, corajosamente, estão mobilizados e em greve como reação às atrocidades cometidas pelas autoridades que deveriam zelar e garantir a existência das comunidades e lideranças indígenas e a segurança de indigenistas e ambientalistas.
Os espíritos-sementes de Bruno e Dom revelam que o que se tornou crime no Brasil é a defesa dos direitos humanos, territoriais, sociais, ambientais, econômicos. A legalidade é mobilizada para justificar atrocidades e criminalizar a luta por direitos.
O Brasil chegou no limite. A barbárie instalou-se entre nós. Ela está nos assassinatos de Mariele Franco, de Genivaldo, de Bruno e de Dom. Está presente nas chacinas de Jacarezinho e da Vila Cruzeiro e em todas as políticas que reforçam e legalizam a violência.
A greve dos e das servidoras e servidores da FUNAI é por Justiça para Bruno e Dom, é pela interrupção das políticas anti-indigenistas coordenada por Marcelo Xavier e por uma FUNAI que cumpra a sua tarefa de proteger os povos indígenas!
A mobilização e a greve das trabalhadoras e dos trabalhadores da FUNAI é uma brecha para nos reencontrarmos com nossa humanidade perdida.
Nós, organizações religiosas e pessoas de diferentes espiritualidades apoiamos esta greve, da mesma forma, que exigimos a apuração independente, séria, profunda e transparente das mortes de Bruno e Dom, para isso, não é possível ignorar as denúncias feitas pela UNIJAVA. Estas denúncias precisam ser incluídas e ser parte central do processo de investigação, sob o risco de legalizarmos o crime e criminalizarmos os direitos humanos.
Convidamos você, sua organização a assinarem este manifesto. Por Bruno, por Dom, por todas as comunidades indígenas, por todos/as indigenistas, pelos/as ambientalistas.
Não ao Marco temporal e por uma FUNAI indígena e indigenista!
- Catedral Anglicana da Ressurreição
- Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
- Comissão Brasileira Justiça e Paz
- Diocese Anglicana de Brasília
- Instituto de Imigrações e Direitos Humanos
- URI América Latina e Caribe CRB - Brasília
- RENADIR - Rede Nacional da Diversidade Religiosa e Laicidade
Lembre-se: você também pode assinar conosco, neste link.