A temática da imigração tem tido uma importância sem precedentes. Recentemente, a ACNUR, agência da ONU para refugiados, anunciou um recorde de 100 milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas por causa de guerras, violência e perseguição. Segundo a agência, os números de pessoas forçadas a se deslocarem têm crescido a cada ano na última década, desde que começaram a ser contabilizados.
Foi pensando nisso que a Federação Luterana Mundial (LWF) teve a iniciativa de, juntamente com a IRW (Islamic Relief Worldwide) e a HIAS, uma organização humanitária judaica, promover uma conferência internacional focada no apoio a organizações baseadas em fé que trabalham em contextos de resposta humanitária.
A conferência “Acolhendo o estrangeiro, moldando o futuro” aconteceu em Genebra, nos dias 20 e 22 de junho, reunindo mais de 50 figuras religiosas de pelo menos 37 nacionalidades diferentes, incluindo a América Latina. O Brasil foi representando pelo CONIC, que através do projeto “Imigrantes e Refugiados – Desafios da Casa Comum” também atua no contexto de apoio a imigrantes e refugiados. Outros países, como Camboja, Sérvia, Malásia e Rússia, estavam representados, bem como variadas tradições religiosas, desde budistas, até hindus, cristãos e muçulmanos.
A ideia de reunir pessoas das maiores tradicionais religiosas do mundo partiu do reconhecimento de que o conceito de “receber o estrangeiro” é um princípio presente na maioria das religiões mundiais e embasado por diversos livros sagrados. É esse conceito que inspira atores locais em todos os lugares da terra a se envolverem com as necessidades de suas comunidades. Pessoas de fé geralmente são as primeiras a responder quando ocorre uma crise e geralmente ficam bem mais tempo depois que organizações humanitárias encerram suas atividades, principalmente porque entendem que acolher o estrangeiro é uma forma de demonstrar compromisso com sua fé e com seu Deus.
Um dos objetivos da conferência foi a troca de experiências locais e nacionais a fim de contribuir para uma resposta coordenada e efetiva em nível internacional. Por isso, além das organizações religiosas, vários agentes da ACNUR estavam presentes, como por exemplo Şafak Pavey, uma diplomata e ativista turca que atua como conselheira da ONU.
Outro objetivo do encontro foi fortalecer as parcerias entre as organizações baseadas em fé e os sistemas humanitários internacionais. O Pacto Mundial de Refugiados, adotado em 2018 pela Assembleia Geral da ONU, reconhece o papel vital que as pessoas de fé têm no desenvolvimento de uma coesão social, no combate a xenofobia e na promoção de soluções duradouras para a crise migratória.
Segundo o reverendo Sivin Kit, executivo de Programas para Teologia Pública e Relações Inter-religiosas da Federação Luterana Mundial, muito do trabalho das pessoas de fé acaba passando despercebido. Reunir líderes religiosos, oficiais da ONU e pessoas que trabalham na linha de frente dos programas, é uma tentativa de mostrar não somente que o diálogo inter-religioso é possível, mas também que uma parceria mais consistente entre esses grupos pode promover mais proteção e fortalecer a acolhida de pessoas ao redor do mundo.
Além da LWF, da IRW e da HIAS, também foram parceiros na organização do evento as organizações: A World of Neighbours, Finn Church Aid, Faith in Action Network e Network for Religious and Traditional Peacemakers.
Texto: Paula Mendes, coordenadora do projeto Imigrantes e Refugiados em Joinville-SC
Foto: Federação Luterana Mundial