A luta pelo fim da violência contra as mulheres aproximou camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e moradoras da periferia de Londrina, norte do Paraná, na última semana. Mulheres acampadas e assentadas de oito comunidades da reforma agrária da região doaram 300 cestas de alimentos e artesanatos, com cerca de seis toneladas no total.
A ação faz parte da campanha “Cultivar afetos, derrotar a violência”, lançada pelo MST em novembro para denunciar o aumento da violência contra as mulheres nesse período da pandemia da covid-19. A iniciativa faz referência ao Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, 25 de novembro.
Entre os itens dos kits estão verduras, legumes, frutas, pão, leite, doces, conservas artesanais, além de pomadas caseiras, óleo de massagem, panos de prato, artesanatos em crochê e mudas de ervas medicinais.
Ceres Hadich, assentada da reforma agrária e da coordenação estadual do MST, explica que as mulheres do movimento iniciaram a preparação da atividade há cerca de um mês. “O processo de preparação foi muito rico para as mulheres sem terra. Queremos chegar até as mulheres em condição de vulnerabilidade na cidade, que passam por uma situação difícil por conta da pandemia e da crise econômica que atravessa o Brasil. Queremos dialogar diretamente com elas, pois nós mulheres entendemos e sentimos na pele o que passam”, diz.
Além desses itens, as camponesas também escreveram cartas em que contam suas histórias na luta pela reforma agrária. Os textos têm o objetivo de transmitir uma mensagem de apoio, afeto e solidariedade às mulheres da cidade que vivem em situação de vulnerabilidade, que, além das tarefas diárias de donas de casa, sustentam suas famílias, educam os filhos e muitas vezes enfrentam um relacionamento abusivo com seus parceiros.
“Além da cesta, pretendemos levar muito mais que o alimento, também levar carinho, afeto, por isso o conteúdo das cestas é especial, leva sonhos, conquistas, e sobretudo a crença de que é possível ter um futuro e uma sociedade melhor para nossas famílias”, garante a coordenadora do MST.
A atividade é realizada em parceria com a Associação Amigas do Vista Bela e o apoio da Rede de Médicos e Médicas Populares de Londrina. “Essa ação é muito importante para os moradores do nosso bairro, porque como todos sabem, a gente está em um momento difícil. Então hoje na hora do almoço, amanhã e nos próximos dias essas coisas vão estar alimentando as nossas famílias”, conta Luzia Aparecida da Silva, integrante da Associação.
Participaram da ação as comunidades Fidel Castro e Maria Lara, de Centenário do Sul; Herdeiros da luta de Porecatu, de Porecatu; Zilda Arns e Manoel Jacinto Correia, de Florestópolis; o assentamento Eli Vive, de Londrina; o assentamento Dorcelina Folador, de Arapongas; e o acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira.
Essa ação se soma à campanha nacional de solidariedade encapada pelo MST desde o início da pandemia. Com a ação do último sábado, as famílias sem terra do Paraná chegaram à marca de 442 toneladas de alimentos doados. Ao todo, 51 acampamentos e 121 assentamentos da Reforma Agrária participaram das campanhas solidárias.
Dados da Violência contra as mulheres
Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com a empresa Decode, feito a pedido do Banco Mundial, revela aumento de 431% em relatos de brigas de casal por vizinhos em redes sociais entre fevereiro e abril deste ano. A mesma instituição registra que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados do país, comparativamente ao ano passado.
No início da quarentena, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro divulgou que aumentara em mais 50% dos casos de violência no estado. Já em São Paulo, entre 19 de março e 13 de abril houve um aumento de mais de 50% de feminicídio dentro de casa, em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública.
No Paraná, em 2019, das 40.797 notificações de violência interpessoal e autoprovocada registradas, 76,3% ocorreram na residência, sendo que 68,4% foram praticadas contra mulheres. Segundo dados da Secretaria de estado da Saúde do Paraná referentes à notificação de violência interpessoal e autoprovocada, no período de janeiro a maio de 2020 houve predomínio da violência física (48,8%) praticada contra mulheres, seguida pela violência psicológica/moral (26%), negligência/abandono (14%), e violência sexual (13%).
Fonte: BdF Paraná
Foto: Reprodução / Alexandrina Mariano e Elaine Machado