Agora é oficial! Foi escolhida arte que dará o tom de toda a identidade visual da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), edição 2023. O desenho, selecionado mediante concurso, é das autoras Hilda Souto e Eva Gislane Barbosa, as quais parabenizamos pela excelente composição e sensibilidade artística.
Conversamos com elas para saber o que as motivou.
E esse foi o relato que colhemos. Confira:
Olhar da artista/teóloga
O processo inicial da criação do cartaz teve como premissa a seguinte frase: “A denúncia que o Conselho de Igrejas de Minnesota faz é a do pecado do racismo, que está acompanhado ou sustentado por privilégios de uma raça sobre a outra”. A ideia inspirou as cores que são o preto e o branco.
Aqui, as duas cores se complementam, como, aliás, todo o conjunto. Por que não há privilégios? Porque os elementos de um lado repetem-se na outra metade. A vida, que é relação, se une para formar um todo harmonioso. Ninguém é uma ilha. As cores, graficamente representadas, complementam-se no sentido de que sem o preto, o branco não é visível, e sem o branco, o preto confunde-se com ele mesmo. Por isso, aqui, essas duas “cores” são a metáfora de todas as outras cores. Nenhuma fica de fora. Na cor pigmento, com as cores primárias: amarelo, vermelho e azul se obtêm o branco, e com as secundárias: verde, laranja e roxo é obtido o preto.
As mãos, dispostas em posição de louvor, formam as asas e complementam a figura de uma pomba, cuja cabeça encontra-se logo abaixo, entre as fontes de água. Em sua cauda estão as chamas que representam os sete dons do Espírito. Na primeira observação, o conjunto: pedras, água, mãos e chamas podem representar também uma árvore, a natureza florindo por meio de seus melhores frutos. Fazer o bem significa, então, ter uma visão sistêmica que abrange toda a criação e, assim, o ser humano será pleno, seja qual for sua cor.
Olhar da teóloga/artista
O cartaz revela duas mãos unidas pelo balão do diálogo, impulsionada pela força da vida representada pela água, por isso estão na crista da onda, que tem seu movimento para fora, aberta para a diversidade do cuidado para com toda a vida, para com a casa comum (lugar de todos, para todos e com todos). Como base temos as rochas (pedras) que representam os valores cristãos que nos dão a solidez de uma vida cristã. O exemplo mais contundente é dado por Jesus na parábola do homem sábio que construiu sua casa sobre a rocha (Mt 7,21.24-27). Há, nessa passagem, uma metáfora que relaciona a segurança diante das tribulações que surgem nos percalços da vida com a solidez dos valores cristãos que não deixa a casa (oikos) cair.
Em cima das mãos estão as línguas de fogo (como em Pentecostes). São 7 para fazer as seguintes menções:
Ao número da perfeição (3 = Trindade Santa + 4 = Água, fogo, terra e ar/ norte, sul, leste e oeste)
Às 7 igrejas plurais e distintas da Ásia, mencionadas em apocalipse (Ap 1,11) como expressão do ecumenismo. Eram 7 igrejas diferentes, costumes e problemas particulares, mas serviam ao mesmo Deus do amor.
7 são os dias da criação, elevando a presença salvadora de Deus para com a casa comum.
70 x 7 como expressão do perdão fraterno, de sempre recomeçar pelo amor superando as divergências e construindo uma relação irmanada em Cristo.
Sobre o símbolo da água que jorra da pedra fazemos memória da passagem em que Moisés sacia a sede do povo que caminhava pelo deserto (Ex 17,6). Assim, podemos obter a seguinte analogia: da rocha dos valores cristãos brota a água da fraternidade, do amor e da justiça, que eleva a vida e jorra para todos os lados, alcançando toda a criação e, assim, saciando as diversas formas de sede presentes em nosso mundo.