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Frade franciscano escreve livro sobre o Candomblé

 
A lei 10.639/03 (alterada com mais especificações pela Lei 11.645/08) tornou obrigatório no Brasil o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Assim, disciplinas como História, Geografia, Artes, Literatura, Ensino Religioso passaram a incorporar conteúdos ligados à temática africana e afro-brasileira. Esta disposição legal não é uma invenção infundada dado que mais de 50% da população brasileira é afrodescendente. Não conhecer minimamente elementos da história e cultura africana e afro-brasileira era até então uma grande lacuna no sistema de ensino, o que a disposição legal se propôs a corrigir. A implantação desta lei foi um processo longo (e que conhece inclusive retrocessos) e esbarrava – entre outros problemas – no fato de que boa parte dos professores de ensino fundamental e médio não havia tido estes conteúdos em sua formação superior. Para contribuir com a formação de professores das redes municipais e estadual da Zona da Mata mineira, a Universidade Federal de Juiz de Fora ofereceu gratuitamente cursos de pós-graduação abertos à população, mas voltados especialmente a professores que desejavam se atualizar nesta temática.
 
O livro “Candomblé – Formação e compreensão religiosa de uma tradição afro-brasileira”, de Frei Volney José Berkenbrock, nasceu das aulas que o autor ministrou por muitos anos nestas turmas de pós-graduação da UFJF. A publicação agora em forma de livro – feita pela Editora UFJF – tem o intuito de tornar o acesso deste conteúdo a um público mais amplo. A obra está dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata da história da passagem das culturas africanas para o Brasil, especialmente do sistema escravocrata e suas consequências; o segundo capítulo apresenta a compreensão cosmológica e existencial dos iorubanos, povo que cultua os Orixás, e que está na base da formação do Candomblé no Brasil; o terceiro capítulo descreve a organização religiosa do Candomblé, sua estrutura, hierarquia, culto e iniciação; o quarto e último capítulo aborda de forma ampla a ligação entre Candomblé, cultura e educação, a partir de quatro eixos: o sincretismo como processo de diálogo cultural, a teologia como sabedoria iniciática nesta tradição religiosa, a antropologia religiosa do Candomblé e por fim o lugar e a função da mitologia nesta tradição.
 
A disposição da obra nestes quatro capítulos faz com que o livro tenha toda uma parte histórica (1º capítulo), que aborda tanto conhecimentos sobre a África, bem como a história da escravização, o envolvimento da Igreja Católica neste processo e as consequências culturais e religiosas desta história; uma parte cosmológico-religiosa (2º capítulo), onde se expõe o modo de pensar que sustenta a religião do Candomblé, sua visão de mundo e especialmente, a compreensão sobre os Orixás, ponto central desta tradição; uma parte mais descritiva da religião (3º capítulo) onde é abordada sua estruturação religiosa em comunidades (popularmente conhecidos como terreiros), a hierarquia dentro de uma comunidade religiosa (a chamada família-de-santo), os rituais e sua lógica neste sistema religioso, e o que é específico para se fazer parte da religião, que é o processo iniciatório; a última parte do livro (4º capítulo) expõe, a partir do exemplo de quatro temas, como a discussão em torno desta tradição religiosa abrange elementos muitos amplos. Assim, apresenta-se a questão do sincretismo como um longo processo de diálogo cultural (que ocorre em todas as religiões); a questão do conhecimento religioso no Candomblé, que é resultado não de estudos acadêmicos, mas de uma teologia/sabedoria iniciática adquirida pela experiência religiosa; a antropologia religiosa presente nesta tradição, onde se aborda a complexa compreensão de ser humano ali presente; e, por fim, o mundo dos mitos no Candomblé, mitos estes chamados de itãs, que são histórias do porquê das coisas. A obra é, desta forma, uma grande introdução ao sistema religioso do Candomblé.
 
O autor
 
Volney J. Berkenbrock é frei franciscano e doutor em Teologia pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade Federal de Bonn, Alemanha, título que obteve com a tese A experiência dos Orixás (Petrópolis: Vozes, 1998), trabalho publicado em 1995 na Alemanha (Die Erfahrung der Orixás. Bonn: Verlag N. Borengaesser, 1995) e em 1998 no Brasil. Atualmente é professor do programa de Pós-graduação em Ciência da Religião na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF.
 
Fonte: Franciscanos
Imagem: Reprodução

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