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Pensando no coletivo, favelas se organizam para combater coronavírus

 
Gizele Martins é nascida e criada no Complexo da Maré, conjunto de 16 favelas com cerca de 140 mil habitantes na cidade do Rio de Janeiro. Jornalista e comunicadora comunitária, ajudou a criar a Frente de Mobilização da Maré para se preparar para a chegada do novo coronavírus.
 
O principal objetivo é distribuir de maneira ampla, efetiva e de acordo com a realidade da favela informações baseadas nas recomendações divulgadas pelo Ministério da Saúde, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela FioCruz sobre os cuidados e riscos do novo coronavírus.
 
Hoje a Frente conta com a participação de moradores das diversas favelas do complexo. O maior desafio é que nem todos têm acesso às informações da imprensa ou mesmo internet. “Estamos trabalhando com carros de som, cartazes nas igrejas, nas associações e nos comércios de todo o conjunto de favelas da Maré, além de produção de artes pelas ruas, faixas e produção de vídeos, artigos e imagens”, explica Gisele.
 
Em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), ela conta que uma grande dificuldade é a manutenção do distanciamento social. A condição de vida nas favelas – falta de saneamento básico, problemas no abastecimento de água potável, casas muito pequenas, abafadas, superlotadas e muito próximas umas das outras – é o principal desafio na prevenção da COVID-19.
 
A preocupação com a sobrevivência também influencia na decisão das pessoas permanecerem em casa. “A maioria dos moradores são trabalhadores informais. As pessoas trabalham para comer, o que também faz muitas pessoas continuarem tentando manter seu pequeno comércio, indo para as ruas, ou seja, elas se colocam em risco”, relata a comunicadora.
 
Para ajudar os moradores, a Frente de Mobilização da Maré está administrando grupo de doações de alimentos e materiais de higiene para distribuir ao público mais vulnerável da Maré.
 
Segundo pesquisa da Data favela, uma parceria do Instituto Locomotiva e da Central Única das Favelas (Cufa), 72% dos moradores de favelas no Brasil ficarão sem dinheiro em apenas uma semana de isolamento social.
 
Gizele conta que a solidariedade pedida pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom, é vista também na comunidade. “É um momento que não dá para pensar só em si, no seu isolamento social, é um momento para se pensar na coletividade, em si e no outro”, reflete a ativista.
 
Ela exemplifica: “Nem todos na favela têm água, então a gente complementa a mensagem de que a população deve lavar as mãos dizendo que nesse momento é mais que necessário a gente compartilhar a nossa água com a vizinha ou o vizinho que não tem”.
 
Campanha multimídia – Um importante aliado no combate ao novo coronavírus no Complexo da Maré é a Fundação Oswaldo Cruz, que lançou em conjunto com a ONG Redes da Maré e com organizações comunitárias a campanha multimídia “Se Liga No Corona”. A iniciativa pretende difundir pelo complexo de favelas informações confiáveis e adaptadas ao contexto das periferias.
 
Cartazes, mensagens de áudio, rádionovelas, peças e vídeos para as redes sociais são os principais materiais produzidos pela campanha. O material é difundido em áreas de grande circulação nas comunidade, a partir de alto-falantes, rádios comunitárias, estabelecimentos comerciais, pontos de ônibus e moto-táxi, associações de moradores e também com compartilhamentos online.
 
A Fiocruz, vizinha do complexo de favelas da Maré, teve recentemente seu trabalho científico laureado, ao ver seu Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo nomeado pela Organização Mundial da Saúde como Laboratório de Referência para COVID-19 nas Américas. Isto permite estudos genéticos e evolutivos visando o desenvolvimento de vacinas e tratamentos, apoiando laboratórios da região. A Fundação também é parceira da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) ao replicar as orientações e medidas de proteção das agências no combate ao novo coronavírus.
 
Cuidados – A higiene é essencial para combater a COVID-19. A OMS recomenda lavar as mãos com água e sabão ou com desinfetantes à base de álcool regularmente; cobrir a boca e o nariz com o cotovelo flexionado ou com um tecido quando tossir ou espirrar– em seguida, jogar fora o tecido e higienizar as mãos; é necessário manter pelo menos um metro de distância de pessoas que estejam tossindo ou espirrando; e caso uma pessoa tenha febre, tosse seca e dificuldade de respirar, deve procurar atendimento médico assim que possível.
 
ONU-Habitat – O Programa Territórios Sociais, implementado pelo Instituto Pereira Passos em parceria com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), tem como objetivo reduzir o risco social de famílias vulneráveis que vivem nos 10 grandes complexos de favelas do Rio.
 
Projeto implementado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com a ONU-HABITAT localiza pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social na capital fluminense e as encaminha a serviços públicos ou a programas de transferência de renda. Em meio à pandemia de COVID-19, a busca por essas pessoas, antes feita presencialmente, ocorre agora por telefone. Mais de 1,6 mil ligações já foram realizadas.
 
Fonte: Nações Unidas
Foto: Reprodução
 

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