A Amazônia tem uma missão enorme: preservar o que ainda existe sobre biodiversidade, categoria que inspira os movimentos ecológicos, ONGs, Igrejas comprometidas com as causas da economia sustentável, tirando da floresta suas riquezas sem agredir o que nela há de mais sagrado. É, de nossa natureza cristã, a defesa da vida em todas as suas dimensões (cf João 10.10).
Como comunidades cristãs comprometidas, as Igrejas e movimentos ecumênicos estão procurando tecer uma “rede ecumênica” de proteção à floresta e isso começa nas cidades, lugar onde está concentrada a população mais pobre, vítima de um sistema desigual os quais foram expulsos de suas realidades ribeirinhas, tirando-lhes o que existe de tão sagrado, como por exemplo, sua relação com a floresta e com tudo o que nela há; caboclos, gente simples, pessoas que se alimentam do necessário sem a mínima pretensão de explorar e destruir. A consciência ecológica se apreende com esse povo simples que, mesmo vivendo sub humanamente, nos dão o testemunho de cuidar da vida e vida para todos, inclusive a criação e todo o ecossistema presente na floresta.
Oriundos dessa realidade tão humana, aprendem na cidade a “ser desumanos”. O consumismo, o uso de drogas lícitas e ilícitas, a criminalidade... Contrapõe o que poderia ajudar a “ser humanos”, cidadãos: a falta de saúde pública de qualidade, educação pública decadente, saneamento básico inexistente, doenças, lixos, fome, miséria... casebres de má qualidade, empobrecidos literalmente!
Evangelicamente tal realidade faz sangrar o coração da gente, nos questionando: que tipo de cristãos nós somos diante de tão desumana realidade? O que oferecemos a essas pessoas? Como podemos ensinar o Evangelho da Vida enquanto a morte é a realidade mais dura entre o povo amazônida? ...
Refletindo sobre nossa realidade e sobre “as dores da Amazônia”, o Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC) timidamente elaborou um projeto intitulado prematuramente como “Em defesa da Amazônia”; a pretensão é reunir outras forças ecumênicas da Grande Belém, tomando como ponto de partida experiências do cuidado e da defesa da vida. Essas outras forças ecumênicas estão envolvidas diretamente com ações sociais à luz do Evangelho de Jesus Cristo, sobretudo com as minorias da cidade e da floresta.
Tomando como exemplo, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, desde 2014, tem envolvido sua membresia para o cuidado com a água, tem recolhido água das chuvas e dela reutilizando para aguar o jardim, assim como, também, para uso doméstico, lembrando que a Amazônia é “o planeta água” e que nossa região chove todos os dias e numa parte do ano “o dia todo”. Além do cuidado com a água, a Igreja – na Catedral Anglicana de Santa Maria – criou a “EcoChurch”, em parceria com a Cooperativa “Filhos do Sol” [1] que recolhe material reciclável e as pessoas da igreja desde o início do projeto se ocupam em trazer uma vez por semana “o lixo reciclável”, azeite utilizado, assim como baterias e pilhas; todo esse material é levado à Associação; a alegria de nos receber – ao levar o material – é enorme. Tal atitude nos motiva e nos faz entender que, um pouquinho estamos realizando para o bem do meio ambiente.
Sobre “a Rede Ecumênica”: O primeiro encontro com as forças ecumênicas foi em dia 12 de dezembro de 2018. Estamos motivados, pois o desafio é enorme sobretudo porque “os grandes projetos” da exploração da Amazônia empobrecerá mais ainda os pobres e o caos se transformarão em um grande mal para o amazônida. Como Conselho Ecumênico, somos desafiados a continuar persistindo e perseverando naquilo que nos ensina o Evangelho de Jesus e a buscar alternativas viáveis para o bem estar das pessoas as quais nos foram confiadas. Que a oração seja também a força de nossa coragem e a esperança que confiamos.
Revdo. Claudio Corrêa de Miranda
Pela Coordenação do CAIC
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[1] Cooperativa de Catadoras e Catadores de Lixo de Belém existente desde 2006 e que tem ajudado a tornar a cidade a ficar limpa, oferecendo emprego a pessoas de baixa renda.
Foto: Pixabay