Nesta terça-feira, 26 de fevereiro, a Comunhão Anglicana celebrou a memória da primeira mulher a se tornar clériga na Igreja. A reverenda Florence Li Tim-Oi foi ordenada diácona em 22 de maio de 1941, em Hong Kong, em plena 2ª Guerra Mundial. Desde a Conferência de Lambeth, de 1920, havia um debate sobre a possibilidade de mulheres administrarem os Sacramentos, e a Guerra, agravada pelo conflito sino-japonês, levou a Hong Kong Sheng Kung Hui (Província Anglicana na China) a tomar uma decisão ousada e ordenar a primeira mulher.
Por ser mulher e ter liberdade de circulação nos territórios em guerra, ela recebeu licença para distribuir a Eucaristia em vários lugares e socorrer espiritualmente muitas comunidades assoladas pelo conflito. Em 25 de janeiro de 1944 ela foi ordenada presbítera, mas foi pressionada até ao ponto de entregar sua licença clerical em 1946, no pós-guerra, sem jamais renunciar às suas ordens.
A Conferência de Lambeth de 1948 (na Resolução nº 113) rejeitou um pedido do Sínodo Geral da China para um período experimental de 20 anos de ordenação sacerdotal feminina; a despeito da negativa, o Sínodo reinseriu Florence no seu quadro clerical e, em 1949, ela foi enviada para servir na Catedral de Nosso Salvador (atual Jingyi Church), em Guangzhou.
Com o fechamento de todas as igrejas chinesas pelo regime comunista entre as décadas de 1950 e 1970, ela foi enviada como trabalhadora numa fazenda. Há relatos de que Florence se deslocava às escondidas até uma montanha próxima para orar e chegou a pensar em suicídio. Oficiais da Guarda Vermelha a forçaram a rasgar suas vestes litúrgicas com tesouras e ela só pode se aposentar do trabalho na fazenda em 1974.
Apenas em 1968 a Conferência de Lambeth (Resoluções 34 a 39) autorizou as Províncias a estudarem a ordenação de mulheres, e a 11ª Conferência de Lambeth, em 1978, com a resolução 21 (aprovada por 316 votos a favor, 37 contra e 17 abstenções) tornou amplamente possível o acesso de mulheres ao Ministério Ordenado na Comunhão Anglicana.
A reverenda Florence só pôde retomar seu ministério em 1979, e se refugiou no Canadá dois anos depois. Ela faleceu em Toronto, em 26 de fevereiro de 1992, aos 84 anos.
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