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CONIC: Entrevista exclusiva com fundadores do Sleeping Giants Brasil

 
Num mundo onde fake news são cada vez mais comuns, iniciativas como a do Sleeping Giants vêm em boa hora. O Sleeping Giants é formado por “ativistas digitais que combatem discursos de ódio e desinformação de forma anônima na internet”.
 
No Brasil, eles não são tão anônimos. Tem nome e sobrenome: Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle. Estudantes de Direito, decidiram sair do anonimato após inúmeras ameaças – incluindo de morte. O não-anonimato foi, neste caso, uma forma de proteção.
 
 
Em entrevista por e-mail, conversamos com eles sobre o movimento, dificuldades e perspectivas para esse tipo de ação, e como veem o futuro de iniciativas como essa.
 
Confira.
 
CONIC: Como surgiu a ideia do Sleeping Giants no Brasil?
 
A ideia surgiu a partir da leitura da matéria do El País em que trazia as vitórias do movimento ao redor do mundo, principalmente em solo estadunidense e francês. O modo de atuação era muito fácil e o impacto era enorme, tínhamos todas as ferramentas disponíveis: um celular com internet e sabíamos criar uma conta em uma rede social. Obviamente nunca imaginamos o sucesso.
 
CONIC: Quais têm sido os maiores desafios desde então?
 
Os maiores desafios, sem dúvida, são o comprometimento empresarial com os seus termos de uso e valores. As empresas se acostumaram a lucrar com desinformação e discurso de ódio, principalmente porque essa indústria movimenta muito dinheiro e por isso eles preferem fingir que não estão vendo esse lucro nocivo entrando. Mas estamos aqui justamente para cobrá-los sobre a sua visão, missão e valores!
 
CONIC: Pelo que acompanhamos na mídia, o Sleeping Giants tem conseguido algumas vitórias. Pode falar qual foi a que mais surpreendeu?
 
Com toda certeza, a última vitória foi a maior de todas: conseguimos fazer com que o Youtube banisse um canal com mais de um milhão de inscritos e também a aplicação dos termos de uso da Pagar.me, que encerrou o contrato com o mesmo canal. Outra enorme vitória foi o PayPal ter banido da sua plataforma o Olavo de Carvalho. A empresa líder mundial em processamento de pagamento reconheceu as violações que o usuário infringia ao usar os seus serviços.
 
CONIC: Como Conselho de Igrejas, buscamos divulgar informações que combatam as fake news. Mas a tarefa é árdua, pois a "indústria de boatos" parece bem engajada. Na sua opinião, por que somos tão um solo tão fértil às mentiras propagadas na web?
 
A internet é um lugar maravilhoso para conectar pessoas de todos os lugares do mundo e acredito que isso também pode ser utilizado para ligar pessoas com pensamentos odiosos ou crenças abomináveis. Justamente por ser um ambiente livre, também se passa a impressão de ser um ambiente sem regras e punição, logo, sem responsabilidades sobre os crimes que cometem.
 
As pessoas também divulgam desinformação porque acabaram, com o passar do tempo, desacreditando, infelizmente, na imprensa e na ciência. O sucesso do SGB [Sleeping Giants Brasil] vem muito desse alerta que algumas pessoas tiveram com a pandemia. Não há como negar algo que matou mais de 270 mil brasileiros. Infelizmente, é a comprovação que desinformação mata.
 
CONIC: O que as empresas deveriam fazer para que seus anúncios, definitivamente, não monetizassem sites que propagam mentiras?
 
O primeiro passo é cobrar das plataformas de adsense a retirada desses sites dos seus sistema de parceira, coisa obviamente difícil já que as gigantes de tecnologia não ligam nem um pouco em lucrar com isso. Por isso sempre recomendamos às empresas a criarem uma blocklist com os maiores sites de fake news. A empresa tem todo direito de escolher onde anuncia.
 
CONIC: Por parte das grandes empresas de tecnologia, o que elas poderiam fazer para conter essa onda de fake news?
 
Elas poderiam fiscalizar melhor o conteúdo e também aplicar os termos de uso, retirar do sistema de parceira os produtores de conteúdo nocivo e produzirem ainda mais conteúdo em prol da diversidade e do respeito. Acima de tudo, resguardando a liberdade e privacidade dos seus usuários.
 
CONIC: Como você olha para o futuro? 
 
Somos muito otimistas, se fôssemos pessimistas nem o perfil teríamos criado, porque acreditamos em todos os consumidores conscientes e junto com eles já conseguimos uma significativa mudança no ambiente digital.
 
Esperamos, no futuro, uma legislação que responsabilize as plataformas pelo conteúdo nocivo propagado e que também tenhamos uma lei própria para as fake news difundidas no ambiente digital. Também sonhamos com a responsabilidade social, ainda maior das big techs, e que elas parem de dar suporte a todo esse conteúdo que afeta a nossa democracia.
 

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