Nos dias 9 e 10 de dezembro, o CONIC organizou o seminário Mulheres: Fé, Direitos e Justiça. O encontro, realizado 100% online, contou com a participação de 30 mulheres das igrejas-membro do Conselho, além de membros de igrejas convidadas e outras comunidades de fé.
Como o próprio nome sugere, a atividade buscou trabalhar a relação entre mulheres, fé, direito e justiça. No Brasil, uma mulher é morta a cada 7 horas. Também é assustador saber que a cada 2 minutos outra mulher apanha do marido, namorado ou ex-companheiro. Aliás, nosso país está em 5° lugar no Ranking Mundial de Feminicídio.
Por outro lado, somos considerados uma nação “religiosa”. Talvez uma das mais religiosas na atualidade. De acordo com o Censo de 2010, cerca de 90% dos brasileiros têm alguma pertença religiosa. Em tese, lares “religiosos” deveriam ser um “oásis” de paz e tranquilidade para as mulheres. Mas a realidade às vezes é outra. Em muitos lares, fé e opressão caminham juntas. E, pior: a religião vem sendo usada como argumento para silenciar essas mulheres e qualquer um que se levante para defendê-las.
Foi nesse contexto complexo, e preocupante, que nasceu a ideia de se fazer o seminário Mulheres: Fé, Direitos e Justiça, um momento foi oportuno para ouvir relatos, compartilhar esperanças e mapear ações que têm sido desenvolvidas pelas igrejas e comunidades de fé em favor das mulheres.
A seguir, confira o relato encaminhado pela pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC:
No primeiro dia (09/12), mulheres das tradições cristã, candomblé, espírita e indígena compartilharam as bases da sua fé e tradição religiosa que fundamentam o direito e a justiça voltada para as mulheres.Elemento comum em todas as tradições é que não há nada que justifique e legitime a discriminação das mulheres e nem a violência. As bases da fé das tradições fundamentam a igualdade entre mulheres e homens.No entanto, igualmente comum em todas as tradições, é que sempre que o poder se coloca acima da fé e quando as religiões se organizam institucionalmente, surge a subjugação das mulheres. Identificou-se que a cultura patriarcal que fundamenta as religiões como cultura legitima a hierarquia entre mulheres e homens, além de desencadear relações de disputa, inveja e inimizade entre mulheres.Percebeu-se também que, apesar dos esforços e iniciativas das tradições de fé em favor dos direitos e justiça para as mulheres, permanece, ainda, a compreensão de que, especialmente nas igrejas, cabe às mulheres o trabalho de apoio, limpeza, ornamentação de altares, organização de campanhas para arrecadação de fundos financeiros. São poucas as situações em que mulheres desempenham função importante nas hierarquias institucionais.No segundo dia (10/12), realizou-se a reflexão sobre o sentido da ciranda na cultura popular brasileira. A ciranda é uma dança de roda antiga, surgida no Nordeste, mas que está presente em vários estados. A ciranda é agregadora, pode iniciar pequena, mas sempre está aberta para a inserção de mais pessoas. Às vezes, é necessário fechar a ciranda para que seu círculo se torne sólido e as pessoas sintam-se seguras.A ciranda tem a ver com corpos em movimento. Por isso, a ideia de uma ciranda por mulheres e justiça. Mulheres em movimento para que as concepções culturais e religiosas que secundarizam as mulheres sejam superadas.
Continuidade
Em 2021, será realizada a celebração Em Memória Delas, pelas vítimas de feminicídio durante a pandemia, além de um novo seminário. Na oportunidade, será organizado um GUIA com todas as ações e práticas desenvolvidas por organizações religiosas em favor dos direitos e da justiça para as mulheres.
Foto: Acervo Pessoal/RomiBencke